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domingo, 3 de setembro de 2023


A MÚSICA E A POESIA







Pelas musas sempre protegidas,

a Música e a Poesia

são duas irmãs muito unidas,

plenas de encanto e magia,

admiráveis por sua beleza,

tão sublimes em sua pureza,

que pela infinda Natureza

seu terno amor se irradia!...



Mas com tantas virtudes embora,

de ambas, uma é preferida

do mundo, por sua voz canora,

- a Música, tão extrovertida,

paixão dos deuses e dos mortais,

que em seus acordes magistrais

suscita-nos suspiros e ais

da emoção mais desconhecida!...



Discreta e alheia à fama,

a Poesia faz-se quietude,

mas aos sentidos de quem a ama,

em tão fascinante atitude,

sopra suaves inspirações,

tocando dormidas emoções,

que sequer sonham as multidões,

no alvoroço que as ilude!...



A Música cavalga os ventos,

arrebatando-nos corações,

extravasando-nos sentimentos,

entusiasmando as multidões!...

Mas no silêncio, a Poesia

faz-se luar e se irradia,

impregnando toda melodia

co'a magia das inspirações!...



A Música provém d'um mistério

que sequer os deuses desvendaram;

a Poesia, de seu etéreo

Parnaso - que poetas sonharam!...

Música - beleza infinita! -,

por quem nosso coração palpita!...

Poesia - se sutil nos visita,

só os poetas nela reparam!...



E foi ao voltar a Primavera

que, - a beber das inspirações,

d'uma fonte que mais pura era,

neste reflorir das estações,

-reencontraram-se as irmãs,

que são do belo as artesãs,

e ao perfume daquelas manhãs,

sonharam ideais criações!...



— Ó vem, vem comigo, Poesia!...

Quero apresentar-te ao mundo!...

- disse a Música, -voz macia...

— Vem revelar-lhe teu dom profundo!...

Unamos as vozes n'um só tema,

-lira, melodia e poema -,

criando a beleza suprema

aos humanos de sentir fecundo!...



— Levemos aos poetas da terra,

a seus menestréis e trovadores,

a inspiração que se encerra

na fonte que murmura amores,

donde, sob a sombra dos balcões,

e ao pulsar de suas paixões,

trarão à luz imortais canções,

eternizando nossos pendores!...



— Oh! sim, Música! Irei contigo!

- respondeu Poesia, sorrindo.

— Tua feliz ideia bendigo,

e teu convite é tão bem-vindo!...

Lavras dos músicos e poetas,

as canções, de belezas repletas,

serão nossas moradas secretas,

mundo em fora nos difundindo!...



E nas asas da brisa sutil,

a Música e a Poesia,

naquele dia primaveril,

partiram rumo à utopia!...

E rondaram palácios em festa,

saraus e a taberna modesta;

e à luz que a lua empresta,

sopraram canções a quem sentia!...



E assim, grandes compositores

de clássicos internacionais

surgiram, cantando seus amores,

em canções tornadas imortais,

com letras ricas de poesia,

unidas, em plena harmonia,

à música, que deles fluía,

e que não esquecemos jamais!...



Estes músicos, - cujas canções,

d'amores frustrados ou ditosos,

comoveram tantas gerações,

- lembram-nos hoje dias saudosos,

em que resguardados sentimentos

trocavam olhares, por momentos,

cartas, retratos e juramentos,

sublimes símbolos amorosos!...



Não mais surgiram belas canções...

E assim, a beleza morria!...

Pois a Fonte das Inspirações

de saudades também fenecia!...

Porém, as musas, - ah! sempre elas! -,

vêm a chamar pelas duas belas,

e já partem as quatro donzelas

para a fonte que se exauria!...



E de volta à fonte querida,

a Música e a Poesia,

com amor, devolvem-lhe a vida,

- e a inspiração renascia!...

E ambas artes, desde então,

zelam a fonte com devoção,

- e o mundo, sem inspiração,

sentiu falta de sua magia!...



E idos os bons compositores,

não mais surgiram novos talentos,

que eternizassem seus amores

em canções plenas de sentimentos!...

Mas comovidas por dó profundo,

as artes irmãs, por um segundo,

encontram-se, às vezes, no mundo,

- e sopram inspirações aos ventos!...



Cláudio Luiz Sá Brito Machado

Em 11 de outubro de 2015