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domingo, 29 de setembro de 2019

GENESIS

Sou o eco inconsciente
da convulsão do universo
magma que busca o fogo
instinto que atrai a razão.
Sou memória primordial
da causa da existência
sou a matéria inerte
que se tornou pensamento.
Sou o verme que se ergue
e habitou em cavernas
as espécies que se movem
e dominam sobre a terra.
Sou pai de antigas crenças
que se chocam entre si
vida que surgiu das águas
anteriores  à Criação.
Sou as raças  mudando sua cor
em incessantes migrações
todas sob o mesmo sol
tão iguais em sua origem
tão iguais em sua essência
e se tornando etnias
de aparentes diferenças.
Sou a longa noite da História
que se perdeu em si mesma
e só entrevemos nas sombras
dos sonhos da Mitologia.
Sou o antigo patriarca
que submete esposa e filhas
e humilha filhos varões
ao pé dum obelisco
símbolo de sua origem
em infame adoração.
E sou o seu primogênito
tratado qual meio-homem
que se vinga em seus iguais
e faz surgir o machismo.
Sou sacerdote de Babel
que tenta desvendar os céus
sou a confusão das línguas
e fanatismo das religiões.
Sou o inimigo de mim mesmo
emaranhado  de conflitos
esconderijo  de complexos
que  ameaçam minha espécie.
Quem sou eu, que nem mesmo sei
o que sinto ao dizer “eu”?
Quem sou, se meu próprio deus
me responde  “Eu sou quem eu sou”?
Quem sou, que mesmo assim, 
me  julgo tão superior
aos que tiveram a mesma origem
no princípio do universo
e mesmo que eu não perceba
se perguntam como eu
a cada instante – “Quem sou eu”?

Cláudio Luiz Sá Brito Machado
Em 28 de setembro de 2019





terça-feira, 28 de maio de 2019

MEMÓRIAS DE UM DIÁRIO DE BORDO


A toda criatura branca, amarela, vermelha ou preta,

seja pessoa, corvo, camaleão ou borboleta.





Pioneiros nautas europeus aportados
à África – e eu, Diário de Bordo, - 
dos castelos reais ficamos admirados,
suntuosos monumentos que bem recordo!...

Súditos leais de reis cristãos europeus,

grafaram respeitos ao povo africano,
a cujos reis pregaram amar só a Deus,
negando seus deuses, pagãos ao Vaticano!

E fiéis os negros a suas divindades,

não se lhes furtaram seus reis à devoção;
- e caiu a farsa das cristãs caridades!...

E do despeito à torpe difamação,

lavraram-me os brancos muitas falsidades,
- sacros pretextos à negra escravidão!










Cláudio Luiz Sá Brito Machado

Em 28 de maio de 2019


Inspirado no trabalho acadêmico

“Os Nossos Antepassados Eram Deuses”,

de autoria da Dra. Claude Lépine, professora


de Antropologia do Depto. de Sociologia e

Antropologia da Faculdade de Filosofia e

Ciências, UNESP, campus de Marília.